
Hoje falarei de nós,
Do que fomos,
E arriscando um palpite,
Quem sabe seremos.
Hoje,
Relembro nosso córrego passando
ao lado da tão
aconchegante casa
Cercada de paus e arames,
onde um galo rajado
Teima em cocorica em todo alvorecer.
Hoje quero falar,
Da mesa pronta para o jantar que
se encontra frio,
Do vinho derramado na toalha amarelada e, desgastada pelo
tempo,
E do vaso de flores secas
a enfeitar nosso ninho.
Hoje quero falar,
Da ansiedade,
que inúmeras vezes levou-me à janela
Da camisola de seda inerte sobre o lençol,
De um tempo emoldurado dentro
de uma foto na estante,
Das velas que acendi,
para não te perderes no caminho.
Hoje quero dizer,
Do momento sublime e único,
Ao sentir pulsar, em meu peito,
a certeza do cinza em meu
ventre.
Sonho inseminador,
Sonho projetado,
Sonho dissipado,
De um amor desgraçado.
Hoje, quero agradecer,
As fantasiosas noites apaixonantes
Os braços macios de amantes
Os beijos molhados, excitantes,
Despertando em mim o desejo de mulher
Hoje quero dizer,
Dos sonhos que sonhamos
Dos planos que arquitetamos
Das ruínas que fizemos
Dos sonhos de amor que
em pó transformamos.
Hoje quero falar de nós,
Homem e mulher
Caçadores de felicidade
Que sonhando foram à luta e
enfraquecidos não tivemos como
lutar.
Hoje, quero reafirmar,
A falta de coragem que não tivemos
O testemunho de amor que não demos
Reafirmando o que somos
e a certeza do que seremos.
Somos restos de coragem,
disfarce de fraquezas
Sonho de esperanças,
Pesadelos de incertezas.

|